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Economia Solidária
- Relato de Experiências no Paraná

Euclides André Mance
IFiL, maio de 2000

Introdução

Dependendo do que se defina como economia solidária, podemos elencar práticas diferentes neste relato de experiências. O próprio significado da expressão solidariedade não é unívoco, embora parte destes empreendimentos reivindique a solidariedade como uma das suas características peculiares. Adotando princípios e conceitos distintos, elas difundem, em graus variados, a participação, autogestão, democracia, igualitarismo, cooperação, auto-sustentação, desenvolvimento humano, responsabilidade social e a preservação do equilíbrio dos ecossistemas. Algumas delas integram-se em redes locais e internacionais, obtendo êxito na criação de postos de trabalho e na elevação da renda dos participantes, apontando novas perspectivas de desenvolvimento com transformação social.

Não há, todavia, um levantamento acessível e sistematizado do conjunto dos empreendimentos solidários no Paraná. As ONGs, em particular, não dispõem de informações precisas e atualizadas sobre os empreendimentos que se enquadrariam nesse campo (1). Selecionar as experiências a serem apresentadas supõe, assim, um recorte de compreensão do que seja economia solidária e do que seja mais relevante compartilhar no quadro das informações que se tem disponível.

Neste relato de experiências daremos preferência a quatro práticas atuais de economia solidária em Curitiba e Região Metropolitana. São elas a Rede Sol, Feira da Solidariedade, a Rede de Colaboração Solidária e a Rede Solidariedade.

 

1. Rede Sol

Em agosto de 1999, foi organizada no Bairro Novo, periferia sul de Curitiba, a Feira dos Produtores, com aproximadamente 60 feirantes, tendo apoio da Associação de Moradores local, com a finalidade de comercializar diretamente os seus produtos. Todos buscavam comprar os produtos uns dos outros, contribuindo assim para garantir as vendas de cada um. A feira funcionava somente aos sábados e na rua, exposta a chuvas, ventos e outras intempéries. Após alguns meses de funcionamento as dificuldades foram se alargando. Alguns feirantes tinham pouco apoio da família. Outros não queriam montar barracas para aqueles que chegavam mais tarde, e assim, aos poucos o número de feirantes foi diminuindo. Por fim, restaram doze. Estes, então, decidiram estruturar um ponto permanente de comercialização.

Assim, em março de 2000, convidaram outros produtores, alugaram um conjunto comercial no Bairro Novo e montaram a Rede Sol, atuando nas áreas de confecções, artesanato, utilidades domésticas, armarinhos, conveniências, alimentação, plantas, ornamentação e aviário.

Participam do empreendimento cerca de 20 produtores ou comerciantes. Cada qual contribui com uma taxa mensal de 20 reais que cobre despesas fixas (aluguel, eletricidade, água, telefone, etc).

Há uma escala de revezamento na loja, com cada um dos produtores atuando alguns dias por mês como vendedores.

O espaço tem sido divulgado nas comunidades da região e o volume de vendas vem aumentando aos poucos. O faturamento do empreendimento vem crescendo a cada mês. Em março, mês da inauguração, a receita foi de R$ 900,00; em abril saltou par R$ 1.600,00 e na primeira quinzena de maio já alcançou R$ 1.000,00 com a previsão de atingir o final do mês com um faturamento superior a R$ 2.000,00.

Alguns produtores (no setor de alimentação e confecções) têm um faturamento que lhes permite manter-se no ponto. Outros três - um que produzia bolsas e outros dois que trabalhavam com artesanato -, tendo um volume menor de vendas, preferiram sair do empreendimento, uma vez que os custos compostos pela taxa, deslocamento e alimentação (nos dia de permanência) chegavam a quarenta reais.

Alguns dos participantes estão integrados em outros espaços de economia solidária e participam de cursos de formação para qualificar a sua atuação como empreendedores em uma perspectiva de economia solidária.

 

2. Feira da Solidariedade

Após um curso realizado no segundo semestre de 1999 pelo Instituto de Filosofia da Libertação e Centro de Formação Irmã Araújo para grupos comunitários de produção e cooperativas, os participantes, aproximadamente vinte pessoas, decidiram constituir uma Rede de Colaboração Solidária. Realizou-se um seminário convidando-se diversas entidades sindicais, populares, pastorais e ONG's para debater e difundir a proposta.

Uma das primeiras iniciativas foi a de organizar uma feira que permitisse aglutinar um maior número de empreendedores que atuam na economia informal e com isso ampliar o conjunto de participantes.

Assim, ocorreu no mês de abril a primeira Feira da Solidariedade com a participação de aproximadamente 90 grupos de produtores e prestadores de serviços, tendo o número de inscritos ultrapassado a 100.

O Ginásio de Esportes da vila São Pedro, onde foi realizada a feira, ficou lotado com as bancas que foram organizadas em setores: alimentação, confecções, artesanatos e serviços.

Organizou-se um banco de dados e durante a Feira foram distribuídas listas com a relação de cada produtor, telefone de contato, produtos e serviços que oferece.

Entre os empreendimentos presentes, elenca-se: Setor de Alimentação: Padarias comunitárias, pão de fubá, pão doce, chinequinho, bolacha, pão de centeio, de fibra, caseiro, broa, broa de milho, pão de batata-doce, biscoito, bolos, cuque, pão de queijo; cueca virada; cooperativas agrícolas do MST, pepino em conserva; picles em conserva e feijão, chá aromático, doce de leite; melaço; rapadura, chimarrão (erva mate socada e triturada para tererê); chá tipo exportação; geléias variadas, cestas de Páscoa, sanduíches naturais, salgadinhos em geral (fritos e assados), empadão, docinhos para festas, torta; pães recheados; mini-pizza; biscoitos caseiros (beijo baiano); produção de lanches, espetinhos, queijos, doces, aves e ovos caipira, macarrão, queijos, bombons caseiros; ovos de páscoa. Setor de Higiene e Limpeza: detergente ecológico, sabão, sabonetes de glicerina e cosméticos. Setor de Confecções: confecções em geral, infantil, adulto, cama, mesa e banho, malhas, lingerie, moletons, fraldas, pijamas, oficina de costura, confecções de bolsas, porchetes, carteiras, porta moedas, mochilas, peças em tricô e crochê, kit de cozinha, enxovais, guardanapos, reformas de roupas. Setor de Artesanato: artesanatos em geral, bordados, panos de prato, macramê, fantoches, bijuteria, colares; brincos; pulseiras; anéis, bolsas, pano de prato; avental, tapetes, chinelo; arranjos; arranjos florais; bisqüi (enfeites de conchas do mar); pinturas e decorações; restauração de móveis em madeira; pintura especializada, enfeites para geladeira, cestas de páscoa; velas decorativas, peças de gesso; trabalho em madeira; arranjos. Setor de Serviços: Quem TV Produções, filmagens; edições em vídeo; cobertura de eventos; produções de audio-visuais, Cooperativa da Construção Civil - Cotracon, serviços de informática, aulas de informática; desenvolvimento/manutenção de software; páginas de internet, produção de panfletos e cartões, carretos, serviços de psicologia, decorações e fantasias para festas, massoterapia, funilaria, estampas, mecânica, serigrafia em camisetas, bonés, bandeiras; serviços de contabilidade, assessoria jurídica, assessoria de custos e formação de preços; assessoria econômica e financeira; Imposto de Renda de pessoa física, curso de artesanatos, paisagismo, ikebana, aconselhamento e conciliação familiar, serviços de assessorias a organizações sociais, cursos de formação, curso pré-vestibular. Outros: artigos religiosos; terços, livros e subsídios de formação, revenda de medicamentos de uso contínuo; marcenaria, produção de armários, cadeiras, guarda-roupas, mesas; etc O evento contou com atividades culturais de um grupo de Hip Hop.

A Feira tinha um duplo caráter. Tanto era possível comprar e vender os produtos e serviços, quanto oferecê-los em troca por outros produtos e serviços. Ao final da feira, como as vendas foram fracas, as trocas se intensificaram.

Durante o dia o intercâmbio de informações entre as pessoas foi um dos aspectos positivos, compartilhando-se algumas informações sobre como produzir melhor e estabelecendo-se contatos para possíveis trabalhos em parcerias.

Embora a divulgação tenha sido ampla, inclusive com entrevistas na CBN sobre o evento, e com releases enviados para os diversos veículos de comunicação da cidade, o público consumidor ficou abaixo do esperado. Alguns produtores, especialmente de artesanato, venderam pouco. O caráter agressivo de algumas músicas do Hip Hop também não foi muito bem aceito por outros.

As despesas da organização e divulgação da feira foram cobertas com a contribuição dos participantes e de outros colaboradores.

Na reunião de avaliação que se seguiu, uma semana depois, compareceram cerca de 70 pessoas. Embora considerando que as vendas tivessem ficado abaixo do esperado (talvez porque a data da feira tivesse sido antes do dia do pagamento ou porque tivesse sido feita em local fechado), a maioria destacou que foi uma grata surpresa o número dos participantes, a variedade e qualidade dos produtos, alguns chegando a afirmar que não precisamos de patrão e de hipermercado para viver, uma vez que boa parte do que consumimos podia ser encontrado na feira ou elaborado por outros produtores, reafirmando a importância de dar continuidade a atividades conjuntas.

Entre as propostas aprovadas estão:

* realizar a feira a cada quinze dias

* fazer compras em conjunto dos insumos, para reduzir custos;

* organizar compras comunitárias para o conjunto das famílias que estão participando da feira

* divulgar a lista de produtos e serviços

* reunir os empreendimentos por setor para definir ações possíveis

* montar pontos permanentes de venda, similares ao da Rede Sol

* avançar na organização de uma Rede de Colaboração Solidária

* elegeu-se uma comissão para negociar junto aos órgãos públicos a concessão de espaços para feira ou pontos permanentes de comercialização.

 

3. Rede de Colaboração Solidária

A proposta da Rede que integrava, em dezembro passado, aproximadamente dez grupos, hoje aglutina mais de 70 grupos de produtores, comerciantes e prestadores de serviços.

O projeto básico de uma Rede de Colaboração Solidária é o seguinte. Os participantes praticam o consumo solidário, dando preferência aos produtos e serviços da rede (onde não há exploração dos trabalhadores e busca-se proteger o meio ambiente), possibilitando que os empreendimentos obtenham excedentes, parte dos quais deve ser reinvestida coletivamente, gerando outras cooperativas ou microempresas, remontando solidariamente a cadeia produtiva dos bens comercializados, evitando-se que a rede compre insumos e produtos finais no mercado.

Assim, cria-se novos postos de trabalho, aumentam-se a riqueza produzida na rede, o consumo produtivo de insumos, materiais de manutenção, etc, em seu interior e o consumo de produtos finais, uma vez que os trabalhadores anteriormente desempregados, que passam a trabalhar nesses novos empreendimentos, incrementam o consumo solidário no interior da rede. Desse modo, os fluxos materiais e de valores passam estrategicamente a realimentar a Rede ao invés de realimentar o mercado capitalista. O projeto, portanto, visa a transformação e integração desses empreendimentos que estão se articulando a partir da feira, possibilitando a expansão de relações de consumo e produção que não sejam capitalistas.

Avançando neste projeto algumas ações estão em curso.

As listas de compras das famílias e as listas de aquisição de insumos e materiais de manutenção dos produtores estão sendo preenchidas. Uma parcela dos participantes já começou a devolver os questionários que serão agora tabulados permitindo totalizar as demandas permanentes e reorientar o processo de produção para atendê-las.

Cursos de formação solidária estão sendo organizados. O primeiro deles sobre Como Organizar um Microempreendimento foi realizado em Maio, pelo IFiL. Neste curso tratou-se não apenas da estrutura de investimentos, custos e formação de preços, como também analisou-se o processo de acumulação de mais valia sobre a lógica capitalista e o processo solidário de reinvestimento dos excedentes em uma rede de colaboração. O próximo curso no mês de junho será sobre Relações Capitalistas de Produção e Redes de Colaboração Solidária.

Outra área de atuação é a manutenção de um site na Internet sobre as Redes de Colaboração Solidária em www.ifil.org\rcs, que possui várias seções.

Na seção Produtos e Serviços encontra-se uma relação de produtores e prestadores de serviços que participam da feira, telefones, contatos e a lista dos produtos e serviços por eles oferecidos, facilitando a sua comercialização.

Na seção compras, é possível conhecer a loja da Rede Sol, navegar por suas seções através de várias fotografias, conhecendo produtos e serviços. Nos próximos meses iniciaremos a comercialização via Internet dos produtos e serviços. Compras acima de R$ 15,00 poderão ser entregues na residência do comprador em até 24hs após realizado o pedido. O pagamento será feito no ato da entrega. Os scripts de compra on line já estão sendo programados. As compras também poderão ser feitas por telefone, como nos sistema de disque-pizza, com o cliente tendo uma lista dos produtos disponíveis.

Na seção software estará sendo distribuído, em breve, o programa Rede Solidária, cuja primeira versão para testes já está pronta com dados advindos do SEBRAE e da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios. O objetivo do programa é dar suporte à organização de Redes de Colaboração Solidária. Ele permite, com facilidade, realizar diagnósticos de empreendimentos conectados em rede, levantando demandas por insumos e produtos finais, visualizar as cadeias produtivas e gerar listas de toda a produção final e projetar o crescimento sustentável da rede, valendo-se de um banco de projetos de micro-empreendimentos. Assim, após totalizar um volume de demandas dos empreendimentos da rede que ainda é atendido pelo mercado capitalista, o programa analisa, no banco de projetos, se há algum empreendimento que possa atender aquele demanda e se o faturamento mínimo para a auto-sustentação do empreendimento corresponde ao que é dispendido pela rede ao adquirir aquele insumo ou produto final no mercado. Caso algum projeto corresponda aos parâmetros requeridos, o programa propõe a sua efetivação, isto é, a criação de um novo empreendimento para atender aquela demanda, apresentando diversos detalhes: o investimento inicial, o investimento fixo, o capital de giro, a despesa fixa, quantos trabalhadores podem ser incorporados, tipo de trabalho a ser executado, tipo e quantidade do produto final a ser produzido, o potencial produtivo da unidade, custo por unidade produzida, preço final por unidade, valor de reposição, valor excedente, demandas que atende, insumos que necessita (o que e quanto consome da rede solidária, o que e quanto consome do mercado capitalista), etc. Os diagnósticos permitem assim corrigir fluxos de valor, visando realimentar a produção e o consumo dentro das redes. Atualmente estamos começando a realizar o diagnóstico de unidades que estão participando da Rede para introduzir os dados neste programa.


A Rede de Colaboração Solidária está mantendo também uma lista de discussão na Internet. Nessa lista há várias propostas levantadas, entre elas a elaboração de um projeto de lei federal que dê suporte às Redes de Colaboração Solidária, alternativas para dar visibilidade e integrar os empreendimentos, incluindo-se a construção de um Portal de Economia Solidária em que todos os empreendimentos poderiam apresentar produtos e serviços e remontar, progressivamente, as cadeias produtivas em laços de realimentação solidária.

Encontram-se também neste site links para as mais diversas práticas de economia solidária praticadas no mundo agrupados nas seguintes seções : Redes de Colaboração Solidária, Agência de Desenvolvimento Solidário - CUT, Rede Global de Trocas, Economia Solidária, Consumo Crítico e Solidário, Grupos e Redes de Compras Solidárias, Movimentos de Boicote, Comércio Équo e Solidário, Organizações de Marca, LetSystem, SEL, SEC e Outros, Empresas Autogeridas por Trabalhadores, Economia de Comunhão, Microcrédito, Crédito Recíproco e Sistemas Locais de Moedas Alternativas, Desenvolvimento Sustentável, Software Livre e Acesso a Redes de Informação, Linux, Terceiro Setor, Clique Solidário e Outros. Cada link agrupado nessas seções abre muitos outros, permitindo uma ampla pesquisa sobre diversas práticas, conceitos e princípios de economia solidária.

 

4. Rede Solidariedade

No final de 1999, o Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região Metropolitana, o Sindicato dos Engenheiros do Paraná e o Sindicato dos Telefônicos do Paraná, deram apoio na montagem de uma empresa denominada Associação Rede de Benefícios Solidariedade, que tem como nome de fantasia Rede Solidariedade. Em abril de 2000 a essa empresa foi legalizada, sendo registrada em cartório. Atualmente essa Rede já está operando.

Entre os objetivos da Rede estão: a) "estruturar legal e operacionalmente num sistema integrado: produção comercialização e consumo de diversos produtos e serviços"; b) "criar e desenvolver uma política concreta de geração de trabalho e renda, para os trabalhadores paranaenses demitidos ou aposentados, alicerçada na estruturação de uma Plataforma de Cooperativas de Produção e Consumo, organizadas e mantidas pelas entidades sindicais, incubadas pela UFPR, para desenvolverem conhecimento e tecnologia, e orientadas ideologicamente pela Agência de Desenvolvimento Solidário da CUT"; c) "produzir recursos financeiros alternativos para a entidades sindicais e associativas associadas; e benefícios e vantagens para os filiados e associados dessas entidades".

O projeto visa fidelizar a participação de mais de um milhão de consumidores à Rede, a partir dos 300 mil trabalhadores sindicalizados e seus dependentes em todo o Estado. Segundo o projeto, "este grande e diversificado nicho de mercado, possibilita às empresas, mantenedoras de convênios e parcerias; e aos produtores solidários, prestadores de serviços, viabilizarem políticas vitoriosas de vendas de seus produtos e serviços, de suas ofertas de benefícios e vantagens, como também a produção de recursos financeiros alternativos para as entidades associadas à Rede, e a geração de trabalho e renda para os excluídos, etc."

Entre os elementos mediadores da proposta estão: a) a CooperAção - Cooperativa de Trabalho e Serviços, que está em fase de formação e legalização, formada por bancários que foram demitidos e aposentados. b) o Cartão Solidariedade - utilizado como instrumento de marketing, apresentado na compra de produtos e serviços, permitindo ao associado obter benefícios e vantagens fornecidas pela Rede - futuramente será um cartão de crédito da Rede. c) Guia Rede Solidariedade - é uma revista-catálogo, com uma "... publicação bimestral, e que tem como objetivo principal divulgar publicitariamente empresas, cooperativas, convênios e parcerias, contratados com a Rede." - sendo responsabilidade dos sindicatos e associações distribuí-la entre seus associados. A primeira edição está sendo finalizada e será lançada em junho. d) CentralMed - Central de Repasse de Medicamentos, cujo objetivo é "repassar remédios de uso contínuos com descontos de 30% para sindicalizados e associados das entidades associadas à Rede". Funciona através de tele-atendimento, tendo um pequeno espaço de loja para a entrega direta dos remédios. Os produtores da Feira da Solidariedade estão integrados nesse sistema, podendo igualmente comprar os remédios com 30% de descontos. Este serviço já está operando, tendo iniciado nesse mês de maio. "A entrega do medicamento é feita 48 horas após o recebimento do dinheiro ou do aviso do crédito em conta". e) Força de Vendas e Rede de Distribuição - formada por demitidos e aposentados, opera em sistema de teletrabalho, em sistemas on line ou por telefone. A Rede está preparando um curso de capacitação para as primeiras turmas que atuarão nesse setor. f) Centrais de Comercialização de produtos Agropecuários e de Prestação de Serviços. Esta propostas ainda está em debate. O objetivo é comercializar através da Rede tanto produtos agropecuários quanto produtos caseiros e serviços profissionais urbanos, elaborados sob os critérios da economia solidária, integrando à Rede os produtores rurais e conferindo maior capilaridade urbana na comercialização da Rede. h) Moradia Popular. Trata-se da construção de moradias populares para os trabalhadores sindicalizados e participantes das associações integradas à Rede. Algumas linhas de financiamento pesquisadas podem ser acionadas, e já há duas cooperativas populares de construção civil operando, uma em Curitiba e outra em Ponta Grossa. "A cooperativa dos trabalhadores bancários realizará as tarefas de administração; a dos trabalhadores engenheiros fará os projetos e plantas, bem como gerenciará as obras; e os trabalhadores da construção civil e dos telefônicos realizarão as tarefas necessárias para as obras de construção material das moradias". Até agora, contudo, não há imóveis sendo construídos pela Rede Solidariedade.

Perspectivas

As perspectivas são de integração de todas essas atividades entre si e com outras já existentes, como por exemplo, as atividades de uma ONG em Curitiba chamada ADITEPP que articula mais de 100 famílias em sistemas de compras comunitárias permitindo, em certos itens, uma economia de até 40% em comparação aos preços praticados nos supermercados.

Essas Redes, que estão sendo organizadas há apenas 3 meses, dão sinais de um potencial grande de crescimento. Tudo dependerá da percepção que os demais segmentos organizados tenham da sua importância, difundindo a prática do consumo solidário.

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Notas

1. No campo da economia informal urbana percebe-se que certa parte de empreendimentos, que poderia ser incluída na esfera da economia solidária, tem um comportamento bastante similar ao dos movimentos populares. São fruto de uma organização coletiva com vistas a atender demandas imediatas por trabalho e consumo, têm uma rotatividade grande de seus participantes, emergem e refluem periodicamente, conforme as conjunturas de crise econômica, mantendo relações similares de autonomia ou dependência frente a organizações religiosas e civis ou frente ao Estado, tendo pouco ou nenhuma informação das organizações precedentes que atuavam nessa mesma esfera, seus acertos e erros. Muitas vezes acabam sucumbindo por repetir os mesmos erros anteriormente cometidos por outros empreendimentos similares.

 


Economia Solidária - Relato de Experiências no Paraná
Seminário Catarinense de Economia Solidária
Florianópolis, maio de 2000
www.milenio.com.br/mance/balanco1999.htm


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