Coronavirus – O Capital ou a Vida

Os dados da Organização Mundial da Saúde sobre a pandemia do coronavirus separam os números da China e do restante do mundo.

Na China, a situação está sob controle, graças a uma forte intervenção do Estado e a atuação comprometida da população em enfrentar a propagação do vírus. Mas no restante do mundo, a propagação e o número de óbitos seguem aumentando rapidamente.


Fonte: http://plataforma.saude.gov.br/novocoronavirus/

Anteontem (15/03) morreram 343 pessoas no mundo por complicações do coronavirus. Ontem morreram 862 pessoas. E, pelas  projeções, com base nos dados da OMS, mantidas as mesmas curvas, hoje possivelmente  irão morrer entre 968 pessoas, no melhor cenário (considerando a inflexão de propagação do vírus no dia 01/03) a 2.163 pessoas no pior cenário, considerando a taxa de letalidade de ontem para hoje. [*]

Se o governo brasileiro não tomar medidas inteligentes agora, milhares de brasileiros irão morrer nos próximos meses, vítimas desse vírus e também da negligência das autoridades. A China construiu hospitais em tempo recorde, estabeleceu a quarentena e o bloqueio à circulação de milhões de pessoas. A Espanha estatizou hospitais, para assegurar atendimento ao conjunto da população.

Mas, em nosso país, o Governo Federal reluta em tomar medidas necessárias, preconizadas pela própria OMS, como a testagem em massa da população. Por que o governo não faz essa testagem massiva? Será que a ideologia do livre-mercado falará mais alto que vida da população brasileira, forçando as pessoas a procurem clínicas particulares para fazer o teste, sob a desculpa de que faltaria dinheiro ao Governo para pagar por eles?

Nos EUA, como publicado pelo UOL Notíciais, “procedimentos relacionados ao coronavírus, incluindo diagnósticos e tratamentos, podem custar entre 441 dólares (cerca de R$ 2.153, segundo a cotação do dia) e 1.151 dólares (R$ 5.619)”, preços que metade da população daquele país não poderia pagar, segundo a pesquisa.

No Brasil, para quem tem plano de saúde, a empresa prestadora do serviço tornou-se obrigada a fazer o teste. Mas, quem não tem plano privado de saúde, terá que pagar, por um produto escasso, a preços muito altos, se quiser fazer o exame: “o preço dos kits vendidos no mercado é de cerca de R$ 3 mil e permite até 20 exames.” [1]. Exames nas clínicas particulares custam entre R$250,00 a R$ 560,00 em Belo Horizonte [2].

Num cenário de empobrecidos, desempregados e endividados, como no Brasil atual, o resultado dessa política será catastrófico para a saúde no país, ampliando rapidamente a taxa de propagação da pandemia entre nós.

Se essa lógica capitalista, de explorar a demanda para fazer lucro, não for substituída imediatamente pela lógica de assegurar o direito à vida da população brasileira, fazendo a testagem massiva que a OMS preconiza,  a pandemia do coronavirus vai matar dezenas ou centenas de milhares de pessoas no país, em sua maioria pobres e excluídos, enquanto alguns vão enriquecer às custas da morte desses empobrecidos e marginalizados.

É revoltante ler nos jornais que o Governo Federal espera, nas palavras de Paulo Guedes, aproveitar a situação para privatizar  empresas publicas, como a Eletrobras, no segundo semestre, sendo que, pelo contrário, deveria estar estudando a possibilidade imediata de estatizar hospitais, como ocorre na Espanha, para fazer cumprir o que a Constituição brasileira assegura aos cidadãos brasileiros: saúde pública, gratuita, universal e de qualidade. Universal significa para todos/as, indistintamente.

Dado o descaso com a propagação do vírus até agora, que parece proposital por parte do Presidente da República – ao afirmar que é “fantasia” a realidade informada pela Organização Mundial da Saúde sobre a propagação e letalidade do vírus  -,  se a população brasileira não se auto-organizar rapidamente para dar outro desfecho a essa situação, adotando por conta própria as medidas exitosas que foram adotadas nos países asiáticos, será muito difícil conter o contagio massivo entre nós. O próprio governo já estima que a taxa de contágio pode chegar a 80% superando a taxa de contágio da Itália [3].

Se isso é verdade, é preciso aumentar rapidamente o número de equipamentos para a entubação dos pacientes em estado grave que surgirão aos milhares, em poucas semanas, nos hospitais.

Pois a irresponsabilidade presente, das autoridades que desgovernam o país, nos levará a essa tragédia futura, que custará a vida de milhares de brasileiros e brasileiras, em sua maioria empobrecidos, que serão, por fim, excluídos da vida , para assegurar os lucros do capital.


Notas

[*] Nota agregada em 19/03. Com base nos dados informados pela OMS e compilados pelo Ministério da Saúde no Brasil, a cifra de 968 óbitos foi ultrapassada em, aproximadamente, 39 horas.